quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lembrai do 5 de Novembro

por Vinícius "Elfo" Rennó

Não sei se as leitoras e os leitores perceberam, mas o aniversário de dois anos do Devorador quase passou em branco. Digo "quase" pois, em virtude disso, decidi fazer proveito e mudar a data de sua comemoração para o 5 de novembro, hoje.


Por quê? Ora, para mim essa data é muito mais significativa do que a anterior e, por isso, muito mais fácil de ser lembrada. Isso se deve especialmente por causa de um certo romance gráfico, um dos primeiros a serem adaptados para o cinema. Refiro-me ao "V de Vingança" (V for Vendetta, no original), de Alan Moore.

Esta obra literária fala de uma possível Inglaterra sob um regime facista. Onde surge um terrorista (ou seria um herói?) mascarado, decidido a derrubar o governo e devolver a liberdade ao povo. Inspirado em Guy Fawkes, este personagem autodenominado "V" pretende explodir o Parlamento Inglês na mesma data que aquele tentou: 5 de novembro. Para provar que "o povo não deve temer seu governo, seu governo deve temer o povo". Mas no meio do seu caminho ele conhece a bela Evey.

Falar mais tiraria o prazer de quem ainda não leu o livro ou assistiu ao filme, que são ambos deliciosos como chocolate meio-amargo. Portanto termina assim o relato e fica aqui a indicação.



Voltando ao assunto inicial, este blogue já completou dois anos. Não parece muito, mas na blogosfera isso já alguma coisa, visto que a maioria das pessoas para de postar logo nos primeiros meses. Até mesmo este que vos escreve já passou por altos e baixos, ficando longos períodos sem escrever algumas vezes. Entretanto, continuo aqui. E sou grato a todos que me lêem e fazem desse pequeno exercício de escrita valer a pena (ou, no caso, valer o teclado).

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Lobo da Estepe

de Hermann Hesse

No início parece ser apenas uma história sobre um homem velho e triste. Com uma tristeza tão profunda que a leitura deste livro não seria recomendável para quem está em depressão (mas para os melancólicos como eu, é uma fina iguaria). Entretanto, se o leitor for perseverante e tiver força de vontade para prosseguir, perceberá que o livro não trata apenas disso.

Quando Herman Hesse escreveu essa história, ele tinha cinquenta anos. E ela tem haver com essa fase da vida, quando o futuro parece cada vez mais obscuro e o passado cada vez mais radiante. Porém, como alerta o próprio autor em uma nota que saiu nas edições posteriores a 1961, "este livro fala e trata também de outras coisas, além de Harri Haller e de seus problemas, (...) fala a propósito de um outro mundo mais elevado e indestrutível". E que, "embora retrate a enfermidade e a crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção."

Foi deste livro que Fenando Anitelli tirou o nome para o seu espetáculo multi-artítico, O Teatro Mágico. Este, para quem não conhece, é como se fosse um sarau ampliado, onde a música, a poesia e as artes circences coexistem. Vale a pena conferir. Mas atenção, assim como o livro sobre o qual escrevo, ele é "só para raros".

PS.: Confira mais a respeito do autor em Sidarta e Demian.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Demian

de Hermann Hesse

Creio que a melhor maneira de expressar o sabor do qual mais me recordo desse livro de Hermann Hesse é fazer uma citação do mesmo:
"Glorifica-se a Deus como o Pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando-a pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar a santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto do Demônio. Isto seria certo. Ou mesmo criar um deus que integrasse em si também o demônio e diante do qual não tivéssemos que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo."
Como podem perceber, basicamente todo este delicioso preparado alemão é uma crítica ao maniqueísmo irresponsável imposto pela sociedade judaico-cristã. Mas não é apenas isso o que atrai na obra. Sua história também é uma representação do que acontece com todos nós durante as nossas vidas, tão singulares e ao mesmo tempo tão parecidas. Além de dar uma lição de moral (sem ser moralista) consoante com nossos dias:
"Aquele que acha mais cômodo não pensar por si mesmo e ser seu próprio juiz acaba por submeter-se às proibições vigentes. (...) Mas há outros que sentem em si mesmos sua própria lei, e consideram proibidas certas coisas que os homens de bem perpetram a todo instante e permitem outras sobre as quais recai uma geral interdição. Cada qual tem que responder por si mesmo."

Este é o segundo romance que devoro deste autor. (O primeiro foi "Sidarta".) É incrível a tamanha espiritualidade de seus escritos, mesmo em uma história aparentemente mais mundana.

domingo, 26 de julho de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira

de José de Sousa Saramago

A história se parece com um roteiro de cinema (tanto, que acabou virando um filme mesmo), mas o rítimo é de crônica joralística. Para mim, um graduando em Letras, a sua quase ausência de pontuação (com exeção das vírgulas) me faz torcer o nariz. Porém reconheço que isso torna a sua leitura mais frenética e empolgante. É possivel que o Ensaio Sobre a Cegueira seja muito mais do que seu título diz, pois fala muito mais do que aconteceria com a humanidade se ficassemos todos cegos, fala sobre o que há de mais mesquinho e podre e o que há de mais belo e perfeito dentro dos seres humanos. Como é frequênte nas obras de Saramago, a personagem principal é uma mulher. E é através desta que se nota toda a força e delicadeza de que as representantes do sexo feninino são capazes e como os homens estariam completamente perdidos sem elas, cegos ou não.

Li este livro quando estava fazendo a disciplina Literatura Portuguesa IV, com o professor Gerson Luiz Roani. Não era uma das obras que estavam sendo estudadas nem a que fora exigida para a avaliação. Mas foi o que li e apartir dessa leitura produzi o seguinte texto, entregue ao dito professor:
Sarama(r)go:

Um sujeito amargo.
Deveras saracástico.
Escreve o fantástico,
De forma crítica
E mítica.
É irônico e
Até mesmo cômico.
Talvez apenas um contista
Pessimista.
Mas é profundo e
De Portugal alçou o Mundo.


Quanto ao Memorial do Convento? Sinto em comunicar que não o li. O farei quando sua leitura não for uma obrigação; quando houver a oportunidade de dedicar o ócio e o prazer que esta obra merece. Ao invés disso li o Ensaio Sobre a Cegueira. Sei que este não é um dos livros do autor estudado que tocaram o professor, mas tocou a mim. E é isso que eu acho importante. Desculpe-me se isso lhe parecer irresponsável. Mas se buscar a origem latina da palavra responsabilidade, descobrirá que significa apenas a capacidade de dar resposta e, supõe-se, capacidade de dar respostas adequadas, próprias, originais e satisfatórias a estímulos que se recebe. Talvez esta não seja a resposta mais adequada à proposta de trabalho do professor, entretanto ela é própria e acredito que seja a mais original possível. E espero que seja satisfatória.
Como resultado, obtive a nota de 40% na disciplina e, portanto, fui reprovado. Não fiquei muito contente com isso. Entretanto também não lamentei. Pois não me preocupo com as notas que me dão, mas com o conhecimento que adquiro.

sábado, 16 de maio de 2009

Dom Quixote

de Miguel de Cervantes Saavedra

É preciso ser um pouco insano para melhor saborear esta obra magnífica. Como assim? Explico. Depois de ler muitos romances de cavalaria, o personagem-título acredita que é um cavaleiro andante, em época e lugar em que não existe tal coisa. Da mesma forma, os leitores da principal obra de Cervantes também precisam se deixar levar pela sua história. Caso contrário, não poderá extrair o seu sumo deliciosamente bem humorado e apreciar sua fragrancia de justiça e honra.

Os romances de cavalaria são o ponto de partida para a loucura de Dom Quixote e seu autor. O primeiro é dito louco por vivenciar essas histórias de donzelas e espadas, e o segundo por subvertê-las. Sim, subvertê-las. Pois ele escreveu esse livro justamente como uma forma de criticá-las. Mas não só isso, também as ressignificou através de sua obra.

Dizer mais é tirar a graça da leitura. Termino aqui com essa música da banda Os Mutantes, inspirada no Cavaleiro da Triste Figura:



A vida é um moinho
É um sonho o caminho
É do Sancho, o Quixote
Chupando chiclete
O Sancho tem chance
E a chance é o chicote
É o vento e a morte
Mascando o Quixote
Chicote no Sancho
Moinho sem vinho
Não corra me puxe
Meu vinho meu crush
Que triste caminho
Sem Sancho ou Quixote
Sua chance em chicote
Sua vida na morte
Vem devagar
Dia há de chegar
E a vida há de parar
Para o Sancho descer
E o Quixote sonhar
E os jornais todos a anunciar
Dulcinéia que vai se casar
Vê, vê que tudo mudou
Vê, o comércio fechou
E o menino morreu
Vê, vê que tudo passou
E a donzela casou
E o menino morreu
Dom Quixote cantar na TV
Vai cantar, vai subir

terça-feira, 24 de março de 2009

Sidarta

de Hermann Hesse

"Om: 'o presente, o passado e o futuro'. É, segundo o upanixade de Manduquia, o mundo inteiro, expressado por uma única sílaba, e ainda tudo quanto pode existir fora dos mencionados três tempos. (...)". Logo nesta primeira nota de rodapé, da versão brasileira do livro, já se encontra toda sua essência. Mas, como o próprio personagem-título ensina (ou, pelo menos, como EU aprendi de sua filosofia), não é possível obter a sabedoria através de doutrinas ou mestres, senão da própria experiência de vida. Portanto, não perca teu tempo, caro leitor ou querida leitora, lendo o que eu escrevi sobre esta magnífica obra de Herman Hesse e vá diretamente à fonte. Se bem que, segundo esta fonte, o tempo não existe; tudo é uma coisa só. Então não importa se lerás ou não o meu texto. Mas já que leste até aqui, não vejo motivo para desistir agora.

"Sidarta" não fala da história do Saquiamuni, o Buda, mas de um pesonagem diferente, que teve origem e início de vida muito parecidas com as do Iluminado. Este até aparece durante a narração, mas como personagem secundário, só para ter sua doutrina criticada respeitosamente pelo protagonista. Quando este se encontra pela última vez com seu amigo de infância, Govinda, diz-lhe, a respeito do Buda, que "o gesto da sua mão me importa mais do que as suas opiniões. Não é nos seus discursos e nas suas idéias que se me depara a sua grandeza, senão unicamente nos seus atos e na sua vida". Enfim, isso mostra que Hesse faz uma interpretação pessoal das correntes filosóficas orientais.

Creio que já disse o bastante -- ou mesmo nada -- a respeito deste livro que muito significou pra mim. Espero sinceramente que meus parcos e fiéis leitores sintam-se tão tocados quanto eu.

sábado, 14 de março de 2009

Maria-sem-vergonha

por Mônica Montone

Leila DinizDela ficou a imagem da menina que trepava em qualquer esquina com qualquer um simplesmente porque ela falava demais.

Quantas marias-sem-vergonha não se esfregam nos muros por aí, se fingindo de flor pequena e rósea, sem que ninguém saiba?

De sua boca não saíam apenas palavrões, mas também poemas que costumava recitar nos bares com um copo de chope nas mãos. Foi amiga de Manuel Bandeira, poeta que, aliás, a tirou do xilindró aos 15 anos de idade após uma prisão por atentado ao pudor por conta de um amasso na praia de Copacabana.

Achava as músicas de Edu Lobo tristes demais e, sobre os intelectuais, dizia: “São uns pentelhos, uns caras velhos. Intelectual não fode, fica só pensando, lendo”. Arrependimentos? Só o que deixou de fazer por neurose e medo.

Adorava crianças. Gostava de cachaça. Amava o mar. Escrevia em diários -hoje guardados com Marieta Severo: “Se a gente sabe das coisas, se vira, a realidade é um troço bacana”; “somando, subtraindo, dividindo, multiplicando, tanto faz. Me interessa o saldo”. Sonhava em ser mãe.

Não queria salvar o mundo, nem ser exemplo. Vivia o comportamento em época de engajamento. De seu affair não consumado com o rei Roberto Carlos, concluiu: “Se ele quiser, mesmo, que faça à moda antiga, toca a campainha do portão”.

Foi professora primária, vedete, atriz, jurada de programa de TV, dona de butique, esposa, amante, fugitiva da polícia, mãe.

Podia ter sido uma Maria qualquer se sua boca tivesse tramela, mas, como não tinha, foi o que não poderia deixar de ter sido: Leila Diniz.

Foi “todas as mulheres do mundo” em apenas 27 anos de existência e exuberância. Essa é a conclusão a que se chega ao ler sua biografia, escrita pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos.

Ao longo das 286 páginas do livro, somos convidados a um mergulho na vida do mito Leila Diniz - que levou o Pasquim à extraordinária marca de 117 mil exemplares vendidos na edição com sua entrevista; que fez com que o ex-marido Domingos Oliveira rodasse um filme somente para tentar reconquistá-la e que foi rejeitada pela Rede Globo, pelas feministas, pela turma do Cinema Novo, pelos comunistas e pela polícia de direita, que a via como uma ameaça aos bons costumes. Mas além disso, reencontramos na biografia uma Ipanema que o tempo não pode trazer de volta e conhecemos histórias da menina que andava de maria-chiquinha e que na infância conversava com uma montanha que apelidou de ursinho Cherri.

A narrativa jornalística e repleta de deliciosos depoimentos faz com nos aproximemos ainda mais dessa bela dona que, por ter optado pela alegria, acabou se tornando um anti-ácido diante de tanta hipocrisia.

Se toda mulher fosse, mesmo, meio Leila Diniz, certamente o mundo seria mais feliz.


Visite o blog da autora deste post: http://www.finaflormonicamontone.com/

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Enquanto não atualizamos aqui...

por Vinícius "Elfo" Rennó

Visitem o meu mais novo blogue:

http://ensaiosobreamudez.blogspot.com/

Lá encontrarão relatos de situações inusitadas de uma pessoa que decidiu parar de falar durante um ano. Pode não ser lá tão interessante, eu sei. Mas é no mínimo curioso, não acham?