quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Demian

de Hermann Hesse

Creio que a melhor maneira de expressar o sabor do qual mais me recordo desse livro de Hermann Hesse é fazer uma citação do mesmo:
"Glorifica-se a Deus como o Pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando-a pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar a santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto do Demônio. Isto seria certo. Ou mesmo criar um deus que integrasse em si também o demônio e diante do qual não tivéssemos que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo."
Como podem perceber, basicamente todo este delicioso preparado alemão é uma crítica ao maniqueísmo irresponsável imposto pela sociedade judaico-cristã. Mas não é apenas isso o que atrai na obra. Sua história também é uma representação do que acontece com todos nós durante as nossas vidas, tão singulares e ao mesmo tempo tão parecidas. Além de dar uma lição de moral (sem ser moralista) consoante com nossos dias:
"Aquele que acha mais cômodo não pensar por si mesmo e ser seu próprio juiz acaba por submeter-se às proibições vigentes. (...) Mas há outros que sentem em si mesmos sua própria lei, e consideram proibidas certas coisas que os homens de bem perpetram a todo instante e permitem outras sobre as quais recai uma geral interdição. Cada qual tem que responder por si mesmo."

Este é o segundo romance que devoro deste autor. (O primeiro foi "Sidarta".) É incrível a tamanha espiritualidade de seus escritos, mesmo em uma história aparentemente mais mundana.