segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Espártaco

de Howard Melvin Fast

Foi enquanto esteve preso (durante três meses em 1950, por contestar o Congresso Estadunidense) que Howard Fast começou a escrever esta que se tornou a sua obra mais famosa.

O livro é uma biografia romanceada de Espártaco, o gladiador, que liderou uma das mais duradouras revoltas de escravos do Império Romano, ocorrida em 71 AC. Trata-se de uma ficção unida aos fatos históricos, uma adaptação livre do que foi contado pelos historiadores romanos. Tanto é que faz uma ótima descrição da sociedade romana da época.
"(...) Esta é uma história de homens e mulheres corajosos que viveram há muito tempo atrás, cujos nomes jamais serão esquecidos. Os heróis desta história estimaram a dignidade humana e viveram nobremente. Eu a escrevi de modo que aqueles que a lerem, tanto minhas crianças quanto as outras, possam tirar forças para o nosso futuro conturbado e possam enfrentar a opressão e o erro -- então o sonho de Espártaco poderá vir a se realizar em nosso próprio tempo." -- palavras do próprio autor.
Temperado com muito sexo e sangue, após a leitura fica na boca um gosto de liberdade.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O Nosso Livro

de Florbela Espanca
Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito;
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor.

Livro de mais ninguém... Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente,
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos... só de nós os dois..."Conheça um pouco mais da obra de Florbela






É desnecessário que eu diga que os versos desta poetisa portuguesa -- que escreveu no início do século XX, mas foi alheia à revolução dos modernistas -- são doces e quentes. Pois quem conhece sabe que ela nos deixou poemas que, mesmo tendo sido escritos há tanto tempo, são como bolos de chocolate recém tirados do forno, levemente salgados por lágrimas de solidão e de saudade.

sábado, 8 de setembro de 2007

A Metamorfose

de Franz Kafka

Um desenho feito por KafkaIndigesto! Para ler Kafka são necessários alguns cuidados especiais: contar com uma certa atenção à maneira com que toda obra se constrói, principalmente seus períodos; estar sempre consciente de que toda a sua criação literária foi feita com o intuito de não parecer bonita, de ser, principalmente, uma obra baseada na dor; ficar atento a todos os detalhes do texto, pois em Kafka, até as imperfeições são propositais.

Sua obra está marcada por uma ruptura interior alimentada pela sua confusa identidade: um judeu tcheco que escrevia em alemão. Ao longo de toda a sua obra, Kafka entrega-se à exploração do seu universo interior.

Uma de suas obras em especial, com a primeira edição datada em 1915, reproduz a sensação do homem moderno que virou o inseto insignificante das grandes cidades. Como quase todas as suas obras, A Metamorfose é alicerçada no realismo, tem uma inclinação à metafísica e nela há uma síntese entre uma racional lucidez e um forte sabor irônico. Mas, cá entre nós, qual é mesmo o sabor da ironia?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Papéis Avulsos

de Joaquim Maria Machado de Assis

Acredito que se este escritor de inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo vivesse em nossos dias e tivesse acesso às atuais formas de comunicação e propagação da escrita, com certeza seria um dos melhores blogueiros que teriam existido, senão o melhor. Porém para nosso azar -- ou sorte, não sei o certo -- ele, que é considerado um mestre da língua, nasceu em 21 de junho de 1839, época em que a Internet sequer sonhava em existir.

Em 1882 publica um livro de contos, Papéis Avulsos, o qual não pretendo trinchar neste post como a um frango assado, mas dar apenas uma idéia para a língua e olhos mais ávidos. O título sugere que sejam textos que não têm relação alguma uns com os outros, mas o próprio autor adverte no início do livro: são como membros de uma só família, "que a obrigação do pai fez sentar à mesma mesa". Então, apesar de serem histórias distintas, são detentoras do mesmo estilo amargo como o café sem açúcar.

Entre os contos, O Alienista é o mais longo e também o mais saboroso, pois as excentricidades cientificistas do Dr. Simão Bacamarte e as reações ambíguas dos moradores da vila fazem com que o leitor ria o tempo inteiro da história. Contudo, quando esta se fecha, um sentimento de desolação parece percorrê-la, transformando o riso em desconforto e reflexão crítica. Os outros contos são igualmente hilários e contestadores. Ao final de cada um há um gostinho de quero mais.
Assinatura de Machado de Assis